segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mas me pediram que falasse sobre o que é ser mulher

Mas me pediram que falasse sobre o que é ser mulher... A mulher é um violino pintado de sangue, um crepúsculo dominical, triste, triste, tão triste... A mulher é o avesso do carnaval, do outro lado que é lado, do lado de lá. A mulher é a orquídea em azul “forget-me-not”; é a roseira em espinhos, só espinhos e aroma. A mulher se faz nas notas altas, nas cordas graves, no tambor pulsante, crioulo, branco e vermelho – como o violino de sangue.

E não se deve esquecer a dor. Ah, a dor. A dor que se eleva, leva e traz o amor. O frágil arranjo do sexo que teima em juntar afeto e tesão. A doce construção doída, do ser do ente. Dor ida do ser doente. Pois a mulher é sintoma, é compromisso de forças... E não há significante que diga dela. Ela, ela, ela... A mulher, a flor, a dor – que se eleva, leva e traz a flor. A rosa repleta de espinhos e incenso... Sim, o mistério! O mistério de se saber mulher... Era disso que tentava falar. Pois me pediram que falasse sobre o que é ser mulher.

Pois bem, digo-lhes então do que se trata. É um segredo: uma coisa escondida, da qual todo o amor depende. Mas vejam bem, se me pediram vou dizer. O que é ser mulher... O mistério é esse, como segue... a saber: é não saber. Ser mulher é não saber de si, é não saber de toda a ternura, apenas sentir no arrepio do corpo. A mulher é do não-saber. E como eu sei e posso lhes dizer? Meu corpo se arrepia: a mulher se toma... Sim, toma.

3 comentários:

joana athayde disse...

Foi em tantas conversas com Isa, onde misturamos nossos atos falhos, com musicas, com filmes, com mitologia e com muito café (cappuccinos grandes, sem chantilly) que esse texto surgiu.

Nem sei ainda se dá pra dizer o que é "meu" o que é "dela" aí... Talvez seja melhor dizer que é tudo "nosso"... E agora, "de quem lê".

isadora disse...

"nossas conversas sempre voltam de forma retroativa."
MESMO

Jéssica Mendes disse...

Enfim encontrei algum lugarzinho virtual em que eu possa ler alguma coisa dessa menina que conheci tão rapidinho no Poemará!

E ainda bem que te pediram que falasse sobre o que é ser mulher. Imagina só se te pedissem pra fazer um bolo, ir ao supermercado ou qualquer outra coisa? Eu não teria lido esse texto, outras pessoas também não e pode ter certeza que isso fez diferença sim.

Abraço! =*