quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ato

Sujeito sem jeito,
dito sem cujo,
só me deleito.

Vaca profana,
vá caetana,
Cai sem pensar,
Cai-tanear.

Vai apanhar,
a vidraça quebrar,
Narciso calar,
do sintoma falar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Histeria

Não, é isso.
Não, espera.

Não é isso?
Não espera?

Esse "não" é meu.
Esse não é meu.
Esse não! É meu.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sexo, drogas e ró-quem-rou

Bárbaros doces, abóboras selvagens,
nem tão novos baianos já conhecem rita-lee-na.
E frutas vermelhas, e armas e rosas.
Lúcia está em um céu de diamantes,
cantada por batisouros.
Veludos subterrâneos e outros revoltos:
Re-djimi página encontra-se com o coverdeles.

Eu tomo uma coca-cola - quem pensa em casamento?
Digam as cobras brancas, os zeppelins levados,
E os rosa-flóides em movimento.
Ouça a geléia de pérolas, os éques-mutantes,
nas pedras rolantes por bobisdilantes.

É que uma canção me descola e eu voo.

domingo, 14 de março de 2010

Vem


Vem que eu quero te respirar em mim:
Devagarinhozinho.
Vem que eu quero te sorrir e te quero,
sorrindo, puxar, morder ab-surdamente.
Vem que eu quero fechar meus olhos teus
E ver-te todo. Caleidos-copiar-te dentro de mim.
Vem que eu quero querer-te sem saber-me
e assim sendo, sem ser, fazer. Valer-te-me.
Vem que eu te quero multiplicar obliquamente
em pronomes e confudir-nos as pernas em eus e tus.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

as imagens esquecidas

Se as borboletas um dia balançaram freneticamente suas asas em meu estômago, hoje não mais. Como o filme de há pouco, há aqui agora um pedacinho de realidade. A realidade é mais como uma formiguinha: discreta, irritante, inexorável. Meu estômago agora parece abrigar essas incansáveis formigas da realidade. Elas seguem, marchando ao som de Les images oubliées de Debussy, mas não ouço o que dizem, não traduzo o que sentem: são tão intocáveis quanto as borboletas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

we're going home

Guardar os livros novos - e usados - a roupa suja, os presentes, as perspectivas, a repentina coragem de mudança, os quilos a mais. Fechar a mala, os olhos, a luz, a porta, os parênteses. Deixar a cópia da chave, as sacolas vazias, as palavras de saudades antecipadas, os passeios não feitos, os filmes não assistidos, as pessoas não encontradas. Voltar pra casa, pra rotina, pras obrigações, pros medos, pro grande espelho no banheiro.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Happy endings

Os filmes nos matam na transição do clímax para o final feliz. É naquele fade-out/fade-in, quando mais uma cena surge, trazendo consigo a esperança de um “twist on the twist”, é ali que todo o problema começa.

Proponho que pausemos as histórias aos 4/5 de seu curso, pois é até onde vamos desse lado da tela. Ficamos ali no desencontro, na raiva, nas coisas não ditas, nos beijos não dados, nos mistérios não resolvidos. Ficamos na hesitação, na rotina, na segurança, na polidez, no medo de doer, no pavor da vergonha, na conservação do vão self-love, whatever that means.

O último quinto não existe por duas razões: so much for happy when it comes to human; so much for ending, when it comes to life.