quarta-feira, 22 de outubro de 2008

se ouve - se houve

sintoma
despertador
do ente
dormente

si toma
despert a dor
doente
dormente

sintoma
desperta a dor
do ente
dormente

sintoma
despertador
doente
dor mente

si toma
desperta à dor
do ente
dor mente

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mas me pediram que falasse sobre o que é ser mulher

Mas me pediram que falasse sobre o que é ser mulher... A mulher é um violino pintado de sangue, um crepúsculo dominical, triste, triste, tão triste... A mulher é o avesso do carnaval, do outro lado que é lado, do lado de lá. A mulher é a orquídea em azul “forget-me-not”; é a roseira em espinhos, só espinhos e aroma. A mulher se faz nas notas altas, nas cordas graves, no tambor pulsante, crioulo, branco e vermelho – como o violino de sangue.

E não se deve esquecer a dor. Ah, a dor. A dor que se eleva, leva e traz o amor. O frágil arranjo do sexo que teima em juntar afeto e tesão. A doce construção doída, do ser do ente. Dor ida do ser doente. Pois a mulher é sintoma, é compromisso de forças... E não há significante que diga dela. Ela, ela, ela... A mulher, a flor, a dor – que se eleva, leva e traz a flor. A rosa repleta de espinhos e incenso... Sim, o mistério! O mistério de se saber mulher... Era disso que tentava falar. Pois me pediram que falasse sobre o que é ser mulher.

Pois bem, digo-lhes então do que se trata. É um segredo: uma coisa escondida, da qual todo o amor depende. Mas vejam bem, se me pediram vou dizer. O que é ser mulher... O mistério é esse, como segue... a saber: é não saber. Ser mulher é não saber de si, é não saber de toda a ternura, apenas sentir no arrepio do corpo. A mulher é do não-saber. E como eu sei e posso lhes dizer? Meu corpo se arrepia: a mulher se toma... Sim, toma.