quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Metafísica do divã

Metafísica do divã

Mãe e filha conversam à mesa, depois do jantar e a meio caminho de derrubar uma garrafa de vinho. A filha, que adora ouvir as hipérboles dramáticas de sua mãe, pergunta:

- Mãe, como você imagina o inferno?

- No inferno, não tem nada. Não tem vida. Tudo acabou.

A filha, querendo aguçar a imaginação de sua mãe, insiste:

- Não, eu não quero saber filosoficamente. Quero saber da imagem. Qual o cenário que vem à tua cabeça quando pensas: Inferno?

- Fim. Ausência de esperança e de existência.

- Tá. Mas e o cenário? Fogo, demônios, trevas, sei lá!

- Não... eu acho que o inferno é o cessar de existir... Acabou. Não tem mais nada para você...

Um tanto desapontada com a resposta pouco imaginética e muito existencial de sua mãe, a filha resolve prosseguir:

- E o purgatório?

- O purgatório? – responde a mãe, sem precisar nem considerar. – O purgatório, você fica ali, em análise.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nebuloso

Nebuloso

A necessidade de escrever
antagoniza o vazio de palavras.
O paradoxo perde seu sentido
na frequência da agonia.

A tempestade de sentimentos
não resolve nada. Nada.
Era melhor que fosse menos...
Ou mais.

O antes reza a pressa em saber.
O depois silencia, sem consentir.
Entre eles só a tempestade.

E as palavras, e os sussuros,
e os lábios, o que dizem?
Não quero ouvir.